País terá certificação unificada em 2011.
Vale a pena optar por esses produtos?
Chris Bertelli, iG São Paulo | 11/02/2010 12:55
Sem agrotóxicos: custo ainda desafia o bolso
O cultivo sem o uso de agrotóxicos não é a única característica que define se um alimento é ou não orgânico. Para ter o certificado que garante o título, produtores têm de se enquadrar em mais de 50 normas diferentes de produção e comercialização, incluindo armazenamento, rotulagem, transporte e fiscalização.
Entre as exigências estão a preservação da diversidade biológica dos ecossistemas, o manejo correto de resíduos, o emprego de processos que incrementem a fertilidade do solo e a inclusão de práticas sustentáveis. Em hipótese alguma é permitido o uso de sementes transgênicas, adubos químicos, ou hormônios e antibióticos em animais.
Segundo produtores, as certificadoras – empresas que fiscalizam e fornecem ou não o “atestado” de orgânico – estão de olho até nas relações de trabalho, exigindo que os funcionários tenham carteira assinada e recebam benefícios.
O prazo para os produtores se enquadrarem nessas regras foi prorrogado para o início de 2011. O certificado de orgânico também muda a partir dessa data e passa a ser um selo único em todo o país, o Sistema Brasileiro de Avaliação de Conformidade Orgânica (Sisorg). Atualmente, existem cerca de 36 diferentes selos de certificação.
Para quem consome orgânicos, a mudança garante que os produtos serão avaliados sempre com os mesmos critérios, independente de qual empresa o certificou, nacional ou internacional. Para Ming Liu, da Organics Brasil – associação cujo objetivo é unificar as estratégias do setor e promover as exportações brasileiras –, o novo procedimento não deve encarecer o produto. A produtora Julia Smith, da Orgânicos São Carlos, confirma. “A lei já existia, esse tempo servirá para resolvermos questões práticas como a mudança de rótulos, por exemplo.” “Quem produz orgânico corretamente não vai ter de fazer nada diferente do que já está sendo feito. Esse custo não deve ser repassado ao consumidor”, opina Ming Liu.
Tendência em alta
O preço alto é apontado como o principal fator pelo qual parte da população ainda opta por verduras, legumes, frutas e carnes não-orgânicos. A reportagem do Delas visitou a feira de produtos orgânicos do Parque da Água Branca, zona oeste de São Paulo, em fevereiro, em uma terça-feira e em um sábado. Nas duas ocasiões, o quilo do tomate custava R$ 7 e o maço de alface era vendido a R$ 2, isso citando apenas dois produtos que, em levantamento do Ministério da Saúde, são os campeões de resíduos de agrotóxicos em não-orgânicos. No Mercado Municipal, os preços eram, em média, 50% mais baratos.
Essa diferença pode ser explicada pela escassa oferta do produto, que está longe de atender à demanda do mercado. “Algumas empresas têm de buscar ingredientes no exterior. O Brasil ainda não tem aveia orgânica, por exemplo”, relata o coordenador da Organics Brasil. No ano passado, a venda de orgânicos da rede Pão de Açúcar, por exemplo, subiu 45%, alcançando a impressionante marca de 57 milhões de reais de faturamento. A PepsiCo, de olho nesse nicho, lançou este ano o seu primeiro produto orgânico: o achocolatado Toddy. A previsão é que o mercado brasileiro de orgânicos este ano cresça até 25%.
Outros fatores também fazem com que o produto chegue mais caro ao consumidor, como a produção em escala restrita, a logística da entrega e até mesmo o controle de pragas sem a utilização de pesticidas. Os agricultores do Paraná, por exemplo, têm de lidar com as pragas da soja de forma natural, sem pesticida – algo que leva tempo. E no caso desta commoditie, qualquer perda pequena é sentida diretamente no bolso do consumidor.
Mais saudável e politicamente correto
Para a empresária Neura Aparecida Gil Freitas, da Refazenda, empresa de Botucatu, no interior paulista, que comercializa e produz pratos orgânicos congelados, o aumento no consumo também reflete uma tomada de consciência da população. “Se você somar qualidade, promoção da saúde, bem-estar social e proteção ao ambiente, vai ver que o preço não é assim tão caro”, argumenta.
A aposentada Cleuza Serra, de 56 anos, concorda e faz questão de sair da zona norte de São Paulo só para fazer feira no Parque da Água Branca, do outro lado da cidade. Essa é a forma que ela encontrou de unir duas preocupações: a saúde e o ambiente. “Esses alimentos são mais saudáveis, porque não estou ingerindo produtos químicos. Eu sei que é mais caro, mas encaro como uma doação ao ambiente, já que a produção respeita a natureza”. A produtora Julia Smith reforça: “o produto é mais saudável, mais nutritivo, além de ter sido produzido de maneira correta, sem produto químico, sem contaminar o ambiente”.
O alto valor nutricional dos alimentos orgânicos não é mera propaganda. A pesquisadora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Sonia Cachoeira Stertz, especialista no tema, já comprovou que esses alimentos são realmente mais saudáveis e mais nutritivos. “Primeiro, por não terem resíduos de agrotóxicos. Depois, por utilizarem fertilizantes naturais, são nutricionalmente mais equilibrados.” Ela realizou uma pesquisa com 10 produtos diferentes, entre eles o leite, o morango e a batata. Os resultados: o leite orgânico tem de 40 a 80% mais elementos antioxidantes – benéficos à saúde; o morango tem mais sais minerais e a batata mais nutrientes do que os convencionais.
Um estudo realizado nos Estados Unidos, em 2007, concluiu que alimentos orgânicos têm 40% a mais de antioxidantes do que os convencionais. Além disso, as frutas apresentavam maior concentração de frutose, de vitamina C e potássio. Tantas pesquisas e descobertas nessa área explicam o sucesso e o crescimento da demanda por esse tipo de produto.
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